sábado, 12 de janeiro de 2013

Mergulho na Escuridão - um livro simplesmente espetacular

Caros amigos, meu post de hoje é dedicado a um dos melhores livros que li em toda a minha vida, que acabo de concluir. Mergulho na Escuridão de Robert Kurson, pela editora Landscape, descreve toda a aventura e a profunda pesquisa realizada pelos mergulhadores John Chatterton e Richie Kohler na descoberta do submarino U-869.

O livro não descreve simplesmente toda a aventura de descoberta dos mergulhadores com o lendário Bill Nagle, mas Kurson preocupou-se em acima de tudo descrever detalhes riquíssimos desta modalidade dentro do mergulho, bem como detalhes sobre os submarinos e da tripulação do U-869.

Robert Kurson alterna momentos em que detalha tecnicamente o mergulho em naufrágios, como também as histórias da Segunda Guerra Mundial em volta dos submarinos e seus tripulantes, bem como histórias dos principais mergulhadores que durante anos estiveram envolvidos nas viagens até o ponto onde o até então U-Who encontrava-se naufragado. Algumas histórias não são tão belas assim. Houveram sim mortes de 05 mergulhadores, momentos de tensão ao se depararem com esqueleto de submarinistas dentro destes cemitérios da Guerra.

Chatterton, o descobridor da identidade do U-869 é uma lenda do mergulho. Pois além de ser um dos maiores mergulhadores de naufrágios do mundo, também foi pioneiro na pesquisa de identificação deles e um dos primeiros a utilizar o Trimix, uma mistura gasosa contendo percentuais de oxigênio, hélio e nitrogênio. John Chatterton iniciou o uso do Trimix nas expedições dos U-869, pois havia descoberto que esta mistura poderia resolver os problemas de narcose, uma vez que o U-boat encontra-se a 70 metros de profundidade. Neste nível de profundidade com o uso da tradicional mistura utilizada por mergulhadores os efeitos da narcose são muito fortes causando a perda de visibilidade, além de interferir no uso dos demais sentidos, o que pode provocar sua morte rapidamente, como ocorreu em algumas das expedições.

Kohler e Chatterton já são uma grande referência para mim não apenas no mergulho, mas como pesquisadores científicos, pois todo o cuidado em investigar os detalhes, a história das embarcações da Segunda Guerra, as visitas aos departamentos responsáveis pelas documentações e registros históricos, a visita ao Museu da Ciência e Indústria de Chicago, o qual tive o prazer de conhecer, e a atenção por lá aos detalhes de um U-boat. E um detalhe importante, ambos não cursaram faculdade até então, e são mais cientistas, pesquisadores do que muitos que passam anos dentro de uma universidade.

A única baixa sobre o livro diz respeito a editora. Apesar do trabalho árduo para fazer a revisão de uma publicação, esta deixa bem a desejar, pois além de muitos erros de digitação, muitos detalhes técnicos estão errados, para dar um exemplo, a orelha do livro descreve o naufrágio descoberto a 690 metros de profundidade.

Este foi o segundo livro sobre naufrágios que li. Sobre o primeiro você poderá ler um pouco no post que fiz sobre O Último Mergulho, livro que conta sobre os Rouse, pai e filho que morreram justamente no mesmo naufrágio, durante uma das expedições para a pesquisa de identificação do submarino.

O fantástico para mim sobre a leitura deste livro, se deve ao fato de eu recentemente ter concluído o meu curso de Wreck Dive, pois ele me trouxe uma outra visão sobre as técnicas, cuidados que se deve tomar e todo o universo da exploração dos naufrágios. Se você tem alguma curiosidade ou interesse em realizar este tipo de curso, eu recomendo que você leia este livro, pois o nível de detalhes técnicos será importante para que você tome todos os cuidados desde o seu check-out até outros mergulhos recreativos que você realizar em embarcações afundadas. Lembre-se que o litoral brasileiro é repleto destes santuários de vida marinha.

Por um lado, ler Mergulho na Escuridão antes do curso poderia prejudicar a minha conexão com a história tão bem narrada por Robert Kurson, cuja metodologia de pesquisa relatada no último capítulo servirá de inspiração para eu sistematizar como será o processo de investigação para o meu mestrado em História da Ciência que começarei agora em 2013. Por outro lado, me traria muitas informações antes do check-out que realizei em outubro de 2012 no Pinguino, em Ilha Grande - Angra dos Reis/RJ (em breve escreverei um post sobre o curso de naufrágio descrevendo a aventura). Mas tudo tem seu tempo e sua hora. Antes desta aventura eu havia lido O Último Mergulho e creio que paguei um preço por ter fixado alguns medos em minha mente atrapalhando mergulhos como o que fiz na Laje de Santos como já relatei aqui no blog. Mas ao mesmo tempo avalio que hoje, passado o batismo, ter feito a prova teórica, e ter lido dois livros que tratam sobre o assunto, com absoluta certeza estarei muito mais bem preparado para retornar ao Pinguino em março deste ano como estou planejando e poder não apenas curtir a beleza das espécies marinhas que por lá estão, como também aproveitar para apurar as técnicas observando muito mais os detalhes que deixei passar antes, bem como, me preparar melhor anteriormente, pois o segredo para este tipo de mergulho depende do nível de informações que você coleta e estuda sobre a embarcação.

Outra coisa que me atraiu muito nesta leitura tem uma grande conexão familiar. Meu bisavô Johannes Guggenberger, saiu do Brasil para lutar na Segunda Guerra Mundial pela Alemanha. Este fato causou uma série de feridas na família que infelizmente não possibilitaram que eu fosse criado mais intensamente dentro dos costumes alemães. Hoje digo que sou um alemão de meia tigela pois tenho a cidadania mas não sei falar uma palavra sequer. Logo, ao conhecer as histórias da guerra é como se eu estivesse sendo transportado para momentos em que meu bisavô possa ter vivido durante o conflito. E o ponto mais forte desta conexão se deve ao fato de que um sobrinho do vô Hans, foi capitão de um U-Boat, o U-513, Friederich Guggenberger, que está afundado na costa brasileira, mais precisamente no litoral de Santa Catarina e que foi descoberto pela família Schurmann. Esta é uma das razões que têm me atraído ao universo do mergulho, não sei se isso é uma conexão espiritual ou algo que está no sub-consciente.

Enfim, um livro obrigatório dentro da sua biblioteca particular, mas cuidado, ele não foi mais editado, portanto você dificilmente encontrará algum exemplar novo. Eu o comprei em um sebo por meio do site Estante Virtual, uma espécie de Buscapé de Sebos por todo o Brasil.

Espero que tenham gostado deste post e estejam intrigados pela leitura.

Até a próxima!!!


 Ilustração do U-869

John Chatterton e Richie Kohler responsáveis pela descoberta do U-869

 Robert Kurson, autor do livro

O lendário Bill Nagle

Capitão Friederich Guggenberger



terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Continuar estudando - O curso Advanced (parte 3 e última)

Bem amigos leitores, este post foi escrito para dar continuidade aos meus relatos do curso do Advanced que fiz com o Cesar Gentille na Cesar Dive Team.

Logo depois das aventuras em Ilha Grande, que vocês poderão ler um pouco no texto anterior, e ainda estou em dívida para escrever outros posts sobre o check-out de naufrágio e os mergulhos livres que realizamos por lá, mas, na sequência realizei uma série de treinamentos na represa de Paraibuna para aperfeiçoar as técnicas, bem como, atingir profundidades inéditas até então para mim.

Ao longo deste post descreverei 06 mergulhos realizados em Paraibuna, por isso, resolvi adotar um estilo diferente de escrita do texto para facilitar melhor a compreensão sobre cada uma das descidas.

Mergulhos em represas como esta são muito interessantes de serem realizados. Primeiro porque você enfrenta um ambiente completamente distinto de mar, pois as condições de visibilidade são muito diferentes, em geral você consegue enxergar entre 02 a 10 metros mais (em ótimas condições climáticas). Segundo, que as pressões e consumos de ar são também diferentes, você está em outro nível em relação ao mar. Terceiro, é que pela situação da visibilidade e stress pelo qual você é levado ao mergulhar em represas, o mar acaba se tornando um parque de diversões, onde a sua maior preocupação será o controle do seu gás, a flutuabilidade, o seu dupla, e ver toda a vida marinha.

Então vamos ao que interessa, a descrição de cada um dos mergulhos. O primeiro, que leva o número 21 em meu LogBook (livro de registro de mergulhos) ocorreu no dia 03 de novembro de 2012 pela manhã. O dia estava com muito sol, um calor de 31 graus, mas enfrentamos uma água com 18 graus e visibilidade de 06 metros. Utilizei um lastro de 8kg integrado ao colete, que era adequado. Desci com bússola, prancheta e deco, acrescitods ao meu setup tradicional. Meu cilindro iniciou com pressão em 189 bar e final em 106. Chegamos a profundidade de 30 metros e um tempo total de 39 minutos, contando com uma parada de segurança de 04 minutos em 04 metros. Apesar dos desafios de um mergulho profundo, o briefing e a forma passada pelo Cesar me deixaram muito tranquilo para descer, além é claro, de ter superado a fobia inicial da descida nos últimos mergulhos em Angra. Ao longo da jornada senti que precisei realizar várias vezes a manobra de compensação muito mais do que estava acostumado, mesmo após os 20 metros como também no trajeto de retorno. Quase o tempo todo estive me apoiando no braço do meu instrutor devido a baixa visibilidade que enfrentamos. Monitorei constantemente bem o ar e a flutuabilidade. Em determinado momento passei a monitorar os possíveis sintomas de narcose, seguindo o briefing, e ao observei o computador quando estávamos a 30 metros de profundidade. Ao realizar este movimento e olhar para os galhos de uma árvore indicados com a luz da lanterna do Cesar Gentille senti pela primeira vez na vida os efeitos da narcose. Tive excesso de salivação e com o “susto” comecei a sofrer uma espécie de princípio de afogamento, causando uma grande aceleração na minha respiração. Neste momento eu vi a importância uma boa escolha que você deve fazer ao optar por uma escola, certificação e instrutor de mergulho. Cesar me levou pela mão para outra profundidade, cerca de 25 metros, me transmitindo sinais de segurança, de que tudo estava sob controle, me tranquilizando e aos poucos fui recuperando minha respiração. Não se assustem, é muito normal mergulhadores sofrerem a narcose ao ultrapassarem grandes profundidades. O mais importante é seu dupla estar atento para poder lhe ajudar e vice-versa. Mesmo com este episódio fiquei muito satisfeito com o meu desempenho, pois como disse anteriormente, um dos meus medos foi superado, a fobia inicial da descida.

O mergulho de número 22 no meu LogBook, realizado na sequência do relatado no parágrafo anterior ocorreu sob as mesmas condições de temperatura ambiente, visibilidade, temperatura da água, mantive os mesmos equipamentos. O meu gás iniciou em 192 bar e terminando com 83 bar. Chegamos aos 26 metros de profundidade, com uma duração de 35 minutos, com uma parada de segurança de 04 minutos a 04 metros. Porém, neste mergulho utilizei o Nitrox, com a mistura EAN37 e PMO (Profundidade Máxima Operacional) de 27 metros, pois nosso objetivo era ver como eu me comportaria sob os efeitos de narcose utilizando outra mistura de gás. Todo o trajeto foi tranquilo, apesar do frio se intensificando a partir dos 10 metros. Passamos tranquilamente pelo mesmo trecho anterior, observei a árvore sem problema algum. Mas, ao retornarmos, devido aos sedimentos que levantamos, diminuindo com isso a visibilidade, tive novamente os mesmos efeitos da narcose, com a respiração muito ofegante, e que rapidamente foi controlada. Novamente sofri com o volume de vezes que executei a manobra de compensação para o nariz e tímpanos. Quando atingimos os 13 metros de profundidade ao retornarmos fizemos o exercício com a Deco e me sai muito bem com ela  e a carretilha e ao atingirmos os 04 metros fizemos a parada de segurança e fiquei preso a Deco, deixando que ela me mantivesse naquela profundidade. Também fiquei muito feliz com o meu rendimento neste mergulho, e ao avaliar com o Cesar os resultados deste dia ele me deu um feedback muito bom sobre os meus avanços e minha postura como mergulhador.

No dia 16 de novembro foi a vez do mergulho de número 23 no Logbook. Neste dia as condições de temperatura do ar estavam beirando os 24 graus, porém enfrentamos no máximo 18 graus na água, mas a visibilidade estava bem ruim, chegando a 2 metros somente. Desci com 8kg de lastro, o cilindro marcava 180 bar inicial e finalizamos com 67 bar. Apesar do tempo de mergulho ser de 40 minutos e a profundidade máxima de 14 metros, este consumo excessivo de gás se deu graças a um vazamento em meu manômetro, que inicialmente achávamos ser apenas um grão de areia, mas que descobrimos posteriormente ser necessário trocar o oring dele. Por isso, fizemos um mergulho mais conversativo. O Cesar também estava sem algum equipamento, por isso, foi necessário mudarmos o plano inicial que era de chegar aos 18 metros. Então, durante todo o mergulho me concentrei em controlar bem a respiração. Este foi um mergulho a mais que fiz, para além do número padrão do curso, para que eu pudesse conquistar mais confiança. Utilizei a lanterna do Cesar, modelo Canister, para eu me habituar com ela, pois estou comprando-a, e me sai muito bem. Apesar da pouca visibilidade meu desempenho com o dupla foi muito bom, pois fiquei um bom tempo sem toque e contato com ele, demonstrando com isso mais firmeza na descida. Ao final, fizemos novamente o exercício para lançar a Deco e fui muito bem, realizando todos os procedimentos com calma e tranquilidade, prova disso, foi que mergulhei com luvas por causa do frio, então, parei, tirei as luvas e as deixei com o Cesar e aí dei início aos procedimentos para liberar a Deco e trabalhar com a carretilha.

Na sequência realizei o mergulho de número 24 do Logbook. E naquele momento as condições mudaram um pouquinho. Continuávamos com os mesmo 24 graus de temperatura ambiente, mas chegamos aos 23 graus de água e visibilidade chegou a 3 metros. Desci com todos os equipamentos costumeiros (lanterna, computador, carretilha, deco, bússola, prancheta), lastro de 8kg no colete, mas com o cilindro em 60 bar inicial e 45 bar final. Este foi um mergulho apenas para treinar as técnicas de bússola, por isso a menor preocupação com a pressão no cilindro, e chegando a 21 minutos, além disso, eu continuava com o problema no vazamento no manômetro. Realizei 03 exercícios de bússola em quadrado no sentido horário. Os 02 primeiros não foram muito precisos em todos os azimutes, graças a minha bússola que funciona melhor em mar, por isso no último utilizei a do Cesar e fiz precisamente.

No dia seguinte, em 17 de novembro de 2012, foi a vez de realizar o mergulho de número 25. Neste dia a temperatura do ar estava na casa dos 23 graus, a água em 18 graus e a visibilidade pior do que no dia anterior atingindo 1 metro e meio e com muito sedimentos. Desta vez utilizei 6kg de lastro no colete, pois achamos que nos últimos mergulhos estava um pouco pesado. O cilindro começou em 189 bar e terminou em 106 bar. Nossa profundidade máxima foi de 19 metros, e mergulhamos por 40 minutos no total, com uma parada de segurança de 4 minutos. Novamente realizei um mergulho com Nitrox trabalhando com EAN37, PMO de 27 metros e calculado com 1.4 de ATA, aliás sempre uso medidas conservativas nos cálculos. Quando atingimos os 19 metros além da visibilidade ruim e do frio sinalizei ao meu instrutor para subirmos e não trabalharmos numa profundidade maior, mesmo eu utilizando luvas e acabei por isso também não colocando a toca. Fizemos o exercício para soltar a Deco e novamente realizei tranquilamente os procedimentos.

Em seguida o mergulho de número 26 foi pequeno, apenas para realizar os exercícios de busca e recuperação de objetos. A temperatura do ar estava em 23 graus, da água 18 e a visibilidade melhorou muito pouco, chegando aos 2 metros. Meu cilindro iniciou em 106 bar e terminou em 76 bar. Cheguei no máximo aos 06 metros de profundidade e trabalhamos por 21 minutos nesta descida. Utilizei muito bem a técnica de caminhada com os dedos guiando-se pelo chão. Fiquei muito seguro com o uso do cordão preso ao meu braço e em alguns momentos cuja visibilidade estava ruim por causa dos sedimentos que eu levantava ao retornar ao ponto próximo, eu fechava os olhos muito calmamente e deixava a corda me guiar. Ao final quase encontrei o objeto, mas fiquei bem satisfeito com o meu desempenho, pois estava seguro, tranquilo para descer e fazer os exercícios.

Depois de todos estes mergulhos, realizei as duas provas teóricas, a do curso Advanced e do Nitrox. Em ambas fui aprovado e bem. Inclusive, o Edimar Barbosa me deu uma dica muito valiosa. Criei uma caderneta de fórmulas e cálculos, de modo a facilitar a consulta a qualquer procedimento necessário futuramente.

Enfim meus amigos, esta foi toda a minha aventura com o segundo curso de mergulho que fiz, o que me encorajou a continuar meus estudos, e me matriculando no Deep Dive, mas isso é assunto para outros posts.

Até a próxima!!!